Imigração
Em 1964, a imigraçao árabe nas Américas completou seu primeiro centenário. O libanês Antun Bichaalani foi o primeiro imigrante que aportou nos Estados Unidos em 1864, vindo a falecer 2 anos depois. O fator primordial dessa imigração foi a pressão e o despotismo dos Turcos, bem como as intensas divergências entre os muçulmanos e cristãos, definidas desde o tempo das Cruzadas e que culminaram com os massacres de 1860.
Todos esses fatores, seguidos de falta de segurança e pobreza geral, vieram a ajudar a renascer, no novo libanês, o espírito de aventura marítima de seus ancestrais.
Tudo faz crer, na autorizada opinião de Safady(1966), que os primeiros imigrantes árabes a chegarem no Brasil foram os palestinos do Beit-Lahm(Belém). O primeiro libanês que aportou no Rio de Janeiro foi Yussuf Mussa, da cidade de Miziara. A 10 de novembro de 1887. A aculturação dos imigrantes no Brasil veio a ser rápida e total. Muitos Libaneses voltaram a sua terra natal, principalmente para Zahle, "a noiva do Líbano", vivendo no "Bairro dos Brasileiros", em sua principal avenida, Al-Sufi (conhecida como Avenida Brasil).
[Extraído do livro Médicos Sírios e Libaneses do Passado, do Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz(FmUSP).]
De inserção marcadamente urbana na nova terra, ao contrário dos outros grupos anteriores provenientes da Europa Ocidental(e da imigração Japonesa), os sírios e libaneses - também em contraposição a outras etnias - vieram por conta própria, o que por eles é referido orgulhosamente como prova inequívoca de um espírito altivo. Mais tarde, tal circunstância seria interpretada pelos prota-vozes da colônia como sinal de distinção em relação à massa de imigrantes de outras nacionalidades, em geral aqui aportados de forma subsidiada. A maior parte dos aqui chegados decidiu pela emigração, premiada pela precária situação econômica da terra de origem e pela inferioridade sócio-religiosa dos cristãos(que de fato constituíram a grande maioria dos imigrantes) numa sociedade predominantemente islâmica, em uma região, à época, integrante do vasto império otomano.
Relembrando o clima vigente na região,Safady(Wadih Safady/Cenas e cenários de minha vida.Belo Horizonte: Santa Maria,1966, p.161-2.) , por exemplo, menciona que "o fator primordial dessa imigração era a pressão e o despotismo dos dominantes turcos. As divergências entre os muçulmanos e cristãos, definidas desde os tempos dos cruzados, produziram convulsões internas no Líbano, que culminaram com os massacres de 1860. O libanês, naquela época, para descer a Beirute ou a Trípole era sempre molestado pelos muçulmanos dessas duas cidades. O Líbano, depois daquelas convulsões internas, ficou menor em área, conforme a Constituição de 1861 e continuou assim, até depois da Primeira Guerra Mundial, desligado de Beirute, Trípoli, Saida e Sur, as quatro cidades-estados do Líbano antigo. A região bo Bika'a, tendo Zahle como capital, era dominada pelos muçulmanos xiitas, um lugar de contúinua tensão e lutas fratricidas entre esses e os cristãos. Na Síria as lutas entre muçulmanos e cristãos não eram menores. Na cidade de Homs as lutas eram em maior escala. Os cristãos não tinham nem o direito de andar nas calçadas".
Os primeiros sírios e libaneses começaram a chegar ao Brasil ainda nos anos setenta do século XIX. Todas as estatísticas a seu respeito são imprecisas, pois foram registrados como turcos, turco-árabes, turco-asiáticos, sírios ou libaneses. Knowlton apurou contingentes modestos e irregulares até por volta de 1895; daí em diante o fluxo imigratório se adensou para, a partir de 1903, crescer ininterruptamente até as vésperas da Primeira Guerra. 1913 registrou a cifra máxima de 11101 imigrantes chegados. Nos anos vinte o movimento foi revitalizado com um contingente ao redor de cinco mil entradas anuais. A partir de então, a depressão e o sistema de quotas adotado pelo governo barsileiro colocaram o movimento imigratório em níveis baixos.
Até 1908, os imigrantes sírios e libaneses não eram discriminados pelos registros imigratórios, mas apenas englobados na categoria "outras nacionalidades". Em termos relativos, as estatísticas disponíveis para o estado de São Paulo apenas nos permitem focalizar períodos compreendidos após esta data. O Quadro I apresenta esses dados para o período 1908-1941. Nesse período, das estatísticas disponíveis, os imigrantes dessa etnia aparecem registrados como turcos(sobretudo até o final da Primeira Guerra Mundial) e depois, ora como libaneses(a partir de 1920), ora como sírios(a partir de 1922). O contingente encontra-se em sexto lugar entre as etnias, contribuindo com cerca de quatro por cento do total da imigração vinda a São Paulo nesse período, o que corresponde a quase o dobro de sua participação relativa no país como um todo. Em São Paulo, os portugueses, os espanhois e os italianos, somados, perfizeram cerca de sessenta por cento de todo o contingente imigratório no período.
QUADRO I |
Nacionalidade |
Número |
% |
portugueses |
309318 | 25,4 |
espanhóis |
228376 | 18,7 |
italianos |
213385 | 17,5 |
japoneses |
189268 | 14,7 |
alemães |
52364 | 4,3 |
sírio-libaneses |
48326 | 4,0 |
romenos |
33709 | 2,8 |
lituanos |
25731 | 2,1 |
iugoslavos |
22693 | 1,9 |
poloneses |
19575 | 1,6 |
austríacos |
16400 | 1,4 |
TOTAL |
1218739 | 100,0 |
População estrangeira no Estado e na Capital(São Paulo) em 1920 (principais etnias). Quadro II
QUADRO II |
Nacionalidade |
Estado |
Capital |
italianos |
398797 | 91544 |
espanhóis |
171289 | 24902 |
portugueses |
167198 | 64687 |
japoneses |
24435 | - de 1000 |
turco-asiáticos |
19290 | 5988 |
alemães |
11060 | 4555 |
austríacos |
10643 | 1772 |
ingleses |
2198 | 1212 |
O censo de 1920 flagrou ainda uma concentração importante deles na região servida pela estrada de ferro Araraquarense. Temos aí uma das regiões do estado que mais se desenvolveria nas decadas seguintes, beneficiada pela marcha do café em direção ao Oeste Paulista. As cidades de São José do Rio Preto, Barretos, Olímpia, Catanduva, Taquaritinga e Monte Alto, todas na mesma região, abrigavam então um número bastante expressivo de sírios e libaneses no interior de São Paulo, conforme nos mostra o Quadro III
QUADRO III |
São José do Rio Preto |
730 | Ribeirão Preto | 234 |
Santos |
586 | Catanduva | 219 |
Barretos |
553 | Piraju | 219 |
Campinas |
327 | Igarapava | 213 |
Piracicaba |
287 | São Carlos | 212 |
Olímpia |
243 | Taquaritinga | 211 |
Araraquara |
237 | Monte Alto | 203 |
[Extraído do livro PATRÍCIOS sírios e libaneses em São Paulo, do Prof. Oswaldo Mário Serra Truzzi(UFSCar)]
Hospital Sírio Libanês
Hospital Sirio Libanês, São Paulo, fundado por um grupo de senhoras da coletividade síria libanesa, lideradas por dona Adma Jafet.
Na idade média, é Phillip K. Hitti (eminente professor de Literatura Semitica em Princeton) quem afirma, o libanês seguiu a mesma senda traçada por seus antepassados. O culto a Cruz e sua adoção como símbolo do Cristianismo se devem a esses imigrantes, dos quais alguns ocuparam o trono de São Pedro. No Brasil encontraram uma nova Pátria. A grande e famosa instituição filantrópica que é o Hospital Sírio Libanês, é mais um exemplo generoso da bondade e do espírito de um povo, com todas as virtudes de sua força e o apuro de sua cultura.
Nassib Mofarrej: um dos principais responsáveis pela construção do Hospital Sírio Libanês. Imigrante Libanês, natural de Rachaya.
[Extraído do livro Médicos Sírios e Libaneses do Passado, do Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz(FmUSP).]