Há quem diga que Mullá Nasrudin nasceu e viveu numa pequena cidade da Turquia por volta do séc. XIII. Há quem diga que não é nem um pouco importante saber se isso é verdade ou não. Através do humor, estre mestre sufi nos leva a perceber o caráter paradoxal da vida e nos desvela nossa forma de pensar condicionada. Este sábio sufi, Mullá Nasrudin, atravessou fronteiras e enraizou-se em várias culturas. O mistério que o envolve é, na verdade, a forma mais apropriada de apresentar esse personagem que não pode ser descrito, ressaltanto apenas o que é realmente importante, ou seja, sua mensagem.
Aprendendo a conversar com Deus
Nasrudin, certa vez, estava sem um burrico que o ajudasse em seus afazeres.
Desesperado, sem ter meios de encontrar um começou a orar, pedindo a Deus que lhe enviasse um burrico. Rezou por algum tempo e, certo dia, ao andar por uma estrada, depar ou-se com um homem montado num burrico e atrás estava um outro burrico mais jovem.
Nasrudin aproximou-se do homem e este lhe disse:
- Mas que vergonha, eu estou trazendo uum burrico de tão longe, estamos todos esgotados, e aqui está este homem descansado, sem fazer nada!
E ameaçando-o com uma espada, completou:
- Vamos! Coloque o burrico nas suas cosstas e venha comigo até a próxima cidade!
Nasrudin, com medo não disse nada, simplesmente colocou o burrico em suas costas e seguiu o homem. Andaram por várias horas e Nasrudin estava exausto de tanto peso. Ao entardecer, chegaram na cidade mais próxima e o homem simplesmente fez Nasrudin descer o burrico das suas costas e seguiu adiante, sem sequer agradecer.
Nasrudin ergueu os seus olhos para o céu e disse:
- Está bem, Deus. Aprendi a minha liçãoo. Na próxima vez serei mais específico...
Acreditando no sonhos!
"Nasrudin vivia numa cidade pacata e muito pequena. Um belo dia, Nasrudin foi passear e estava com um copo de leite nas mãos.
Andou, andou e resolveu parar na beira de um rio que existia na cidade. Olhou para o rio e jogou o leite dentro dele.
Pegou um galho de árvore e começou a mexer no rio com movimentos circulares, sem parar.
O Prefeito da cidade, que estava fazendo uma ronda, viu aquilo e pensou que Nasrudin estivesse ficando louco.
Então, resolveu se aproximar para averiguar melhor o fato.
-- Nasrudin, o que você está fazendo?
-- Estou fazendo iogurte!
-- Você está maluco! Disse o Prefeito. Mesmo que você jogue e litros de leite seria impossível fazer iogurte!!!
O rio é muito grande.
Nasrudin então, olhou bem nos olhos do Prefeito e disse:
-- Você já pensou se fosse possível? "
Quando descobrir conto
Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se a multidão:
"Ó povo deste lugar ! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício ?"
Logo juntou-se um grande número de pessoas com todo mundo gritando:
"Queremos ! Queremos !"
"Era só para saber", dise o Mullá. "Podem confiar em mim, contarei tudo a respeito caso algum dia descubra algo assim".
O Mestre-Nadador
Era uma vez um mestre-nadador. Numa tabuleta acima de sua porta podia-se ler:
O Papagaio e o Corvo
Numa linda manhã de domingo, Mulla Nasrudin passeava no mercado. Qual não foi sua surpresa ao deparar com seu amigo Yussuf: este segurava uma gaiola com um pequeno papagaio, cujo preço de venda era três peças de ouro! Escandalizado, o Mulla gritou: – Yussuf, como se atreve a pedir tal soma por um mísero papagaio? Yussuf encarou Nasrudin severamente e disse: – Fique sabendo, Mulla, que eu peço um preço justo. Este não é um pássaro qualquer: ele fala! Sem saber o que responder, Mulla seguiu seu caminho. Uma hora mais tarde, grande foi a surpresa de Yussuf quando viu seu amigo Mulla instalar-se ao seu lado, trazendo uma gaiola com um velho corvo. Pregado à gaiola, um letreiro anunciava o preço: doze peças de ouro! – Ladrão! Escroque! – gritou Yussuf, vermelho de raiva. – Você não tem vergonha de pedir um preço desses por um velho corvo depenado? – Não – respondeu calmamente Mulla Nasrudin. – É verdade que é um corvo velho, é verdade que ele não fala, mas este não é um pássaro qualquer: ele pensa!
A Farmácia cósmica de Nasrudin
Nasrudin estava desempregado. Perguntou, então, a alguns amigos que tipo de profissão deveria seguir. "Bem, Nasrudin," disseram, "você é muito capaz e conhece bastante as propriedades medicinais das ervas. Poderia abrir uma farmácia." Nasrudin foi para casa, pensou e disse para si mesmo: "sim, acho que é uma boa idéia. Acho que sou capaz de fazer isso." Naturalmente, sendo Nasrudin, nessa ocasião em particular passava por um de seus momentos de desejar ser proeminente e importante. Assim, pensou: "Não abrirei apenas uma loja de ervas ou uma farmácia que lide com ervas; abrirei algo grandioso e que cause um forte impacto". Comprou uma loja, instalou prateleiras e armários e quando chegou a hora de pintar a fachada, montou um andaime, cobriu-o com chapas e trabalhou atrás delas. Não deixou que ninguém visse o nome que daria à farmácia ou como a fachada estava sendo pintada. Após vários dias, distribuiu folhetos que diziam: "Grande inauguração, amanhã às nove horas". Todos de sua aldeia e das aldeias vizinhas vieram e ficaram esperando em frente à nova loja. Às nove horas, Nasrudin apareceu, retirou a placa da frente e lá estava um enorme cartaz onde se lia: "Farmácia Cósmica e Galáctica de Nasrudin" e abaixo estava escrito: "Influenciada e harmonizada com influências planetárias". Muita gente ficou impressionada e ele fez um ótimo negócio naquele dia. Ao anoitecer, um professor local aproximou-se de Nasrudin e lhe disse: "Francamente, essas alegações que você faz são um pouco duvidosas". "Não, não", respondeu Nasrudin, "cada alegação que faço sobre influência planetária é absolutamente correta. Quando o sol se levanta, abro a farmácia e quando o sol se põe, eu fecho." Portanto, podem haver diferentes interpretações sobre quanto a influência planetária afeta alguém e sobre o quanto dessas influências alguém recebe ou usa.
Nasrudin visita a Índia
O célebre e contraditório personagem sufi Mulla Nasrudin visitou a Índia. Chegou a Calcutá e começou a passear por uma de suas movimentadas ruas. De repente viu um homem que estava vendendo o que Nasrudin acreditou que eram doces, ainda que na realidade fossem chiles apimentados. Nasrudin era muito guloso e comprou uma grande quantidade dos supostos doces, dispondo-se a dar-se um grande banquete. Estava muito contente, se sentou em um parque e começou a comer chiles a dentadas. Logo que mordeu o primeiro dos chiles sentiu fogo no paladar. Eram tão apimentados aqueles "doces" que ficou com a ponta do nariz vermelha e começou a soltar lágrimas até os pés. Não obstante, Nasrudin continuava levando os chiles à boca sem parar. Espirrava, chorava, fazia caretas de mal estar, mas seguia devorando os chiles. Assombrado, um passante se aproximou e disse-lhe:
- Amigo, não sabe que os chiles só se ccomem em pequenas quantidades?
Quase sem poder falar, Nasrudin comentou:
- Bom homem, creia-me, eu pensava que eestava comprando doces.
Mas Nasrudin seguia comendo chiles. O passante disse:
- Bom, está bem, mas agora já sabes quee não são doces. Por que segues comendo-os?
Entre tosses e soluços, Nasrudin disse:
- Já que investi neles meu dinheiro, nãão vou jogá-los fora.
O que poderia tornar-se o quê
Hakim entrou num restaurante e pediu ovos cozidos. O velhaco dono apresentou-lhe uma conta de cinco moedas de prata. Hakim protestou que aquela conta era um absurdo. -"Se eu tivesse guardado esses ovos parra as galinhas chocarem, teriam se transformado em frangos", disse o dono do restaurante, "e sua prole, e a prole de sua prole, e a prole da prole de sua prole teriam produzido milhões de ovos - valendo muito mais que cinco moedas. Os ovos saíram-lhe baratos." O juiz local era Nasrudin, e foi a quem Hakim apresentou a queixa. O dono do restaurante teve que ir também, para que pudesse se defender. Nessa época, Nasrudin resolvia os casos em casa, pois dizia que: -"Na vida, a Justiça sempre aparece". Assim que ouviu ambos os argumentos, Nasrudin cozinhou um punhado de milho. Então, deixou que esfriasse um pouco e, colherada por colherada, plantou-o no seu jardim. -"Que raio de coisa você está fazendo?"", ambos perguntaram. -"Plantando milho, que desta maneira see multiplicará", disse Nasrudin. -"Desde quando alguma coisa que foi cozzida poderia multiplicar-se desta forma?", bradou o dono do restaurante. -"Esta é a sentença deste tribunal", diisse Nasrudin. -"A vocês dois, um bom dia."
A Mulher Perfeita
Certa tarde, conta uma antiga história sufi, Nasrudin tomava chá e conversava com um amigo sobre a vida e o amor.
-"Por que você nunca se casou, Nasrudinn?", perguntou o amigo.
-"Bem", respondeu, Nasrudin, "para dizeer a verdade, passei toda a minha juventude a procurar a mulher perfeita. No Cairo conheci uma môça linda e inteligente, com olhos que pareciam olivas pretas, mas ela não era muito cortês. Depois, em Bagdá, conheci uma mulher de alma generosa e amiga, mas não tínhamos muito interesses em comum. Muitas mulheres passaram pela minha vida, mas em cada uma delas faltava alguma coisa, ou alguma coisa estava demais. então, um dia, eu a conheci. Era linda, inteligente, generosa e bem- educada. Tínhamos tudo em comum. Na verdade, ela era perfeita".
-"E então", replicou o amigo de Nasrudiin, "o que aconteceu? Por que você não se casou com ela?"
Pensativo, Nasrudin sorveu mais um gole de chá e concluiu:
-"Infelizmente, parece que ela estava aa procura do homem
perfeito."
O peixe que salvou uma vida
Nasrudin passa diante de uma gruta, vê um yogue meditando, e pergunta o que ele estava
buscando.
- Contemplo os animais, e aprendi deles muitas lições que podem transformar a vida de um
homem - diz o yogue.
-Pois um peixe já salvou minha vida - responde Nasrudin. - Se você me ensinar tudo que que sabe,
eu lhe conto como foi.
O yogue espanta-se: só um santo pode ter a vida salva por um peixe. E resolve ensinar tudo que
sabe.
Quando termina, diz a Nasrudin:
- Agora que ensinei tudo, ficaria orgulhoso em saber como um peixe salvou sua vida.
- É simples - responde Nasrudin. - Eu estava quase morrendo de fome quando o pesquei, e graças
a ele pude sobreviver três dias.
Agora com mais luz
Um vizinho encontrou Nasrudin de joelhos procurando alguma coisa.
- "O que você perdeu?"
- "Minha chave", disse Nasrudin.
O outro homem ajoelhou-se e pôs-se a procurar com ele.
Passados alguns minutos, ele perguntou:
- "Onde a deixou cair?"
- "Em casa."
- "Então por que, em nome de Deus, está procurando a chave aqui?"
- "Porque aqui tem mais luz."
Sopa de Pato
Um conterrâneo de Nasrudin veio do interior visitá-lo e trouxe-lhe um pato.
Muito grato pelo presente, Nasrudin cozinhou a ave e compartilhou-a com sua visita.
Não tardou para que chegasse outra visita. Era um amigo, conforme disse, "do homem que lhe
deu o pato". Nasrudin igualmente recebeu-o e deu-lhe de comer.
Isso aconteceu várias vezes. A casa de Nasrudin tornou-se uma espécie de restaurante para
visitantes de fora da cidade. Todo mundo era, em algum grau, amigo daquele primeiro sujeito que
havia presenteado o pato.
Finalmente, Nasrudin esquentou-se. Um dia, um estranho bateu à porta.
"Sou amigo do amigo do amigo do homem que lhe deu o pato", disse.
"Entre", disse Nasrudin.
Sentaram-se à mesa e Nasrudin pediu que sua mulher trouxesse a sopa. Assim que o visitante deu
o primeiro gole, pareceu-lhe estar tomando nada além de água quente.
"Que tipo de sopa é esta?", perguntou ao mullá.
"Esta", respondeu Nasrudin, "é a sopa da sopa da sopa do pato".